
"Um Grammy e inúmeras ações pelo cenário Hip Hop brazuca..." Este é o Cabal
Madison Square Garden, Nova York, 2 de novembro de 2006. Com Jennifer Lopez, Shakira e Thalia nas cercanias, o paulistano Daniel Korn está prestes a subir ao palco da cerimônia do Grammy Latino, mais cobiçada premiação da indústria fonográfica da América luso e hispanófona.
Já à frente da multidão, com os holofotes todos sobre si, Korn fala em nome do Hip Hop brasileiro. E de Chitãozinho e Xororó. "Melhor Álbum de Música Regional e Raízes" era a categoria em disputa, "Vida Marvada" o álbum vencedor. "Como o Chitãozinho e o Xororó não puderam comparecer, arranhei um portunhol para agradecer à dupla pela oportunidade de representar meu país e o Hip Hop", lembra. "Ouvi muitas críticas quando a parceria foi lançada. Depois do Grammy, alguns se calaram, outros elogiaram". Dali, backstage em alvoroço, entrevistas e fotos mil, autógrafos a todo vapor.
Tão excêntrico quanto polêmico, o momento é cabal para Cabal, vulgo de Korn, rapper que recebe a honraria. É apenas parte do longo processo empreendido por ele, porém: fazer versos festeiros, que rebolem cinderelas e senhoritas, mirando incansável a popularização do Hip Hop no país - cultura ainda muito longe de ganhar corpo de indústria, em sua opinião.
Ex-integrante do Motirô, trio que emplacou o avassalador hit "Senhorita" em 2005, Cabal quer empreender a era PROfissionalizada do Hip Hop brasileiro. A PROHIPHOP, editora, gravadora, produtora de eventos e instituto, é a empresa fundada por ele para dar corda nessa reformatação do movimento. "O 'PRO' tem a ver com PROfissionalizar e com ser 'pró', isto é, 'a favor'. O Hip Hop no Brasil ainda sofre com amadorismo. Sempre surgem questões que são reflexo disso, como 'Iluminação para quê? Cachê? Que cachê que nada, põe uma garrafa de cachaça e já está bom'", critica. "No Brasil, vamos ter um Timbaland, um Kanye West ou um Rick Bonadio do Hip Hop apenas quando nos fortalecermos e nos PROfissionalizarmos", garante. "Precisamos de uma força de trabalho capacitada e organizada; de clubes, contratos, cachês. Vender seu trabalho não é vender sua alma".
Morando por duas vezes nos Estados Unidos, Cabal teve lições cotidianas sobre como gostaria de ver o Hip Hop organizado no Brasil. "No fim dos anos 1980, minha mãe foi chamada para trabalhar em Nova York. Com 8 anos, fiquei hipnotizado ao ver os caras rimando nas esquinas", lembra. No princípio da década de 1990, de volta a São Paulo, Cabal viciou em "Cabal", game do console Nintendo que virou mania na época. Foi como surgiu sua alcunha. "Anos depois, vi em um dicionário que a palavra significava 'completo', 'pleno'. Percebi que essa idéia resumiria o que queria ser".
Aos 15 anos, Cabal começou a mostrar rimas para os colegas. Acabou retornando à gringa para cursar o último ano da high school, fincando os pés nos arredores de Washington. Voltou ao Brasil decidido a cursar faculdade nos Estados Unidos, mas foi pego de jeito pelo vírus das noites black do club Brancaleone, na Vila Madalena. Acabou estagiando no controle de qualidade de um banco e se graduando em Administração em São Paulo, experiência que o levou a assumir o compromisso de ser seu próprio empresário."Foi nessa época que o DJ Hum, que conheci no Brancaleone, me convidou para fazer um som com ele. E nasceu o sucesso de 'Senhorita', sem nenhuma gravadora grande, sem nenhum investidor". Com Cabal versando, Lino Crizz no refrão e a latinidade da base do DJ Hum, não deu outra: o Motirô pegou vôo direto para as rádios mais populares. Domingão do Faustão, Prêmio Multishow, ringtone de platina: todos queriam "Senhorita". Dispensável mencionar que o emprego em banco já tinha dançado a essa altura. "Até minha chefe já pedia autógrafos para o filho", sorri.
Nenhum comentário:
Postar um comentário